Esporotricose Felina: Guia Completo e Cuidado
Esporotricose felina: o que todo tutor precisa saber sobre essa doença. Informações claras e diretas sobre como identificar, tratar e evitar a contaminação.
Vet Alexandre Azevedo
5/2/20256 min ler


Esporotricose Felina: Uma Zoonose em Crescimento no Brasil - Alerta Veterinário
A esporotricose, popularmente conhecida como "doença do jardineiro", é uma micose subcutânea causada pelo fungo dimórfico Sporothrix schenckii (e complexo de espécies). Embora afete diversas espécies de animais e o ser humano, nos últimos anos temos observado um aumento preocupante de casos em gatos no Brasil, transformando a esporotricose felina em um grave problema de saúde pública devido ao seu potencial zoonótico.
Como veterinário, acompanho com crescente apreensão a expansão geográfica desta doença. Recordo-me, inclusive, de observar com frequência casos em gatos no Parque Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, durante minha juventude. O que antes parecia pontual, hoje configura surtos em diversas cidades brasileiras, exigindo atenção redobrada de tutores, veterinários e órgãos de saúde.
Surtos de Esporotricose Felina no Brasil: Uma Realidade Preocupante
Diversos municípios brasileiros têm reportado um aumento significativo no número de casos de esporotricose em gatos. Essa expansão pode ser atribuída a múltiplos fatores, incluindo a alta população de gatos de rua, a falta de conhecimento sobre a doença e as condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do fungo. Os felinos, em particular, são altamente suscetíveis à infecção e podem apresentar uma forma mais grave da doença, além de serem importantes transmissores para outros animais e para os humanos.
Esporotricose é Zoonose: Risco para a Saúde Humana
Um dos aspectos mais relevantes da esporotricose felina é o seu caráter zoonótico, ou seja, a capacidade de ser transmitida dos animais para os seres humanos. A transmissão geralmente ocorre através do contato direto com as lesões infectadas do gato, seja por arranhaduras, mordidas ou pelo manuseio sem proteção. Nos humanos, a esporotricose geralmente se manifesta como lesões cutâneas nodulares que podem evoluir para feridas ulceradas, principalmente nos membros e na face. Em indivíduos com o sistema imunológico comprometido, a infecção pode se disseminar para outros órgãos.
Como o gato adquire esporotricose felina?
O gato adquire esporotricose principalmente de duas formas:
1. Inoculação do fungo através de ferimentos:
O fungo Sporothrix schenckii (e complexo de espécies), agente causador da esporotricose, vive naturalmente no solo, em matéria orgânica em decomposição, em espinhos de plantas (como roseiras), em palhas e em madeiras.
Gatos, especialmente aqueles com acesso à rua, podem se ferir ao entrar em contato com esses materiais contaminados. Arranhões por espinhos, farpas ou outros objetos podem criar pequenas lesões na pele que servem como porta de entrada para o fungo.
O hábito dos gatos de afiar as unhas em árvores e enterrar suas fezes no solo também os expõe ao risco de contato com o fungo.
2. Contato direto com outros animais infectados:
A principal forma de transmissão da esporotricose entre gatos (e para humanos) é através de arranhaduras e mordidas de animais já infectados.
Gatos com esporotricose, especialmente aqueles com lesões abertas, carregam uma alta carga fúngica nessas lesões. Durante brigas ou mesmo no contato social, podem inocular o fungo em outro animal através de ferimentos.
Embora menos comum, existe a possibilidade de transmissão pela saliva de um gato doente, especialmente se houver contato com mucosas (olhos, nariz, boca) ou feridas abertas de outro animal.
É importante notar que alguns gatos podem ser portadores assintomáticos do fungo nas unhas, podendo transmiti-lo através de arranhões mesmo sem apresentar lesões visíveis.
Em resumo, o gato se infecta com esporotricose quando o fungo Sporothrix schenckii penetra na sua pele ou mucosas através de uma lesão, seja por contato com o ambiente contaminado ou pelo contato direto com outro animal doente. Devido aos seus hábitos e à natureza territorial, gatos com acesso à rua são mais propensos a adquirir a doença.
Diagnóstico da Esporotricose Felina
O diagnóstico da esporotricose em gatos é fundamental para iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível. Ele geralmente envolve:
Exame clínico: Avaliação das lesões características na pele do animal.
Citologia: Coleta de material das lesões para análise microscópica, buscando identificar as estruturas fúngicas.
Cultura fúngica: Considerado o método mais sensível e específico, consiste no cultivo do fungo em meio de cultura a partir de amostras das lesões.
Biópsia: Em alguns casos, pode ser necessária a coleta de um fragmento da lesão para análise histopatológica.
Testes sorológicos: Embora menos comuns na rotina clínica, podem auxiliar no diagnóstico em casos específicos.
É importante ressaltar que apenas um veterinário pode confirmar o diagnóstico de esporotricose felina e indicar o tratamento adequado.
Lesão cutânea esporotricose felina (Sporothrix schenckii ) - Fonte Wikimedia
Esporotricose em Gatos: Tem Cura?
Sim, a esporotricose em gatos tem cura! No entanto, o tratamento geralmente é longo e requer disciplina por parte do tutor. A medicação de escolha na maioria dos casos é o itraconazol, um antifúngico oral que deve ser administrado diariamente por um período que pode variar de semanas a meses, dependendo da extensão e da gravidade da infecção, bem como da resposta individual de cada animal.
Em alguns casos, outros antifúngicos podem ser utilizados, como o cetoconazol ou o iodeto de potássio (embora este último seja menos utilizado devido aos seus potenciais efeitos colaterais). O acompanhamento veterinário regular é essencial para monitorar a evolução do tratamento, ajustar a dose da medicação se necessário e verificar a ocorrência de possíveis efeitos adversos.
É crucial que o tutor siga rigorosamente as orientações do veterinário, não interrompendo o tratamento precocemente, mesmo que as lesões apresentem melhora. A interrupção precoce pode levar à recidiva da doença e ao desenvolvimento de resistência aos antifúngicos.
Esporotricose Felina - prevenção
A prevenção da esporotricose em gatos envolve um conjunto de medidas que visam reduzir o risco de exposição ao fungo e controlar a disseminação da doença:
Evitar o acesso à rua: Gatos com acesso livre à rua têm maior probabilidade de entrar em contato com o fungo, presente no solo, em materiais orgânicos em decomposição e em outros animais infectados. Telar janelas e varandas e restringir as saídas do seu felino são medidas importantes.
Cuidado ao manusear materiais de jardinagem: O fungo Sporothrix schenckii é frequentemente encontrado em espinhos de roseiras, palha, musgo e outros materiais vegetais. Utilize luvas ao manusear esses materiais.
Higiene: Lave bem as mãos após o contato com o seu gato e, principalmente, após manusear qualquer lesão suspeita.
Isolamento de animais infectados: Caso seu gato seja diagnosticado com esporotricose, ele deve ser isolado de outros animais e de pessoas, evitando o contato direto até que o veterinário determine que ele não representa mais risco de transmissão. Utilize luvas ao manusear o animal e seus pertences (cama, comedouro, etc.) e desinfete o ambiente com produtos adequados.
Atenção a ferimentos: Ferimentos em gatos devem ser limpos e tratados adequadamente para evitar infecções, incluindo a esporotricose.
Controle da População de Gatos de Rua e Castração: Uma Medida Crucial
O controle da população de gatos de rua, através da castração em massa, é uma medida fundamental para o controle da esporotricose felina. Gatos não castrados tendem a vagar mais, aumentando o risco de contrair e disseminar a doença. Além disso, a superpopulação de animais de rua dificulta o acesso a cuidados veterinários e contribui para a manutenção de um ciclo de transmissão da doença.
Programas de castração acessíveis e a conscientização da população sobre a importância da esterilização são ferramentas essenciais para reduzir o número de animais vulneráveis à esporotricose e, consequentemente, diminuir o risco de transmissão para outros animais e para os seres humanos.
Conclusão: A Responsabilidade de Todos no Combate à Esporotricose em gatos
A esporotricose em gatos é uma zoonose em ascensão no Brasil que exige a atenção e a colaboração de todos: tutores, veterinários e órgãos de saúde pública. A conscientização sobre a doença, a prevenção através de medidas simples, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são cruciais para proteger a saúde dos nossos gatos e a nossa própria. A castração e o controle da população de gatos de rua representam um passo importante para interromper o ciclo de transmissão desta preocupante micose. Como veterinário, reforço a importância de procurar atendimento profissional ao menor sinal de lesão suspeita em seu felino e de seguir rigorosamente as orientações para garantir a saúde e o bem-estar de todos.

